terça-feira, 30 de setembro de 2014

A VISÃO DO CRISTO CELESTIAL

Texto: Apocalipse 1.9-20

Quando você pensa em Jesus, como o imagina? Os pintores do passado tentaram retratá-lo. Pois, não havia máquinas fotográficas, celulares modernos, filmadoras. Para que alguém tivesse uma imagem de si próprio teria que ficar muito tempo parado na mesma posição até que o artista pudesse esculpir sua fisionomia numa peça ou num pano.

Era algo também de privilégio de poucos, de ricos ou de pessoas de autoridade. O fato é que os discípulos não puderam gravar nada da fisionomia de Jesus. Sua vida, palavras e obras foram a maior imagem gravada em suas mentes e corações. Uma foto batida pelos olhos, pela grandeza dos fatos que ocorriam diante deles.



A última imagem que os discípulos tiveram de Jesus foi dele ressuscitado e se despedindo deles indo para o céu. Porém, o apóstolo João aqui no livro de Apocalipse é semelhante a visão de Paulo no caminho de Damasco (Cf. At.26.13-15), ele aparece em forma celestial cheio de glória e poder. Essa visão extraordinária de João nos ensina muitas coisas, dentre elas aprendemos:

1) Em meio a tanta glória e poder ele não muda e continua no meio da igreja e intercede por ela: 

“e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes talares” (V.12).

Observe que mesmo com toda glória, João ver alguém semelhante a filho da humanidade. Jesus nunca vai deixar de nos representar perante Deus e a natureza humana que ele tomou jamais deixará. E que os “candeeiros” que somos nós, sua igreja, ele está no meio e jamais ausente. As vestes “talares” na versão LXX, o AT no grego, refere-se a vestes sacerdotais. Isto é, Jesus continua e rogar e ser o sacerdote de sua igreja. Observe que este é o último e mais recente livro de todos os outros da Bíblia, escrito aproximadamente no ano 96 d.C.

2) Ele está cheio de santidade, do Shekinah e contempla as profundezas da igreja:
“A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo”. (v.14).

João não viu um Cristo de cabelos brancos, a palavra que está no manuscrito grego é “leukos”, quer dizer: “claro, brilhante, luminoso”. Uma visão clara da santidade de Deus, da gloriosa presença de Deus. Como Paulo descreveu: “porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade”. (Cl.2.9). Esse brilho era o mesmo que ocorria no tabernáculo de Moisés quando a glória de Yahveh se fazia manifesta no santo dos santos. A Bíblia diz: “Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do SENHOR enchia o tabernáculo”. (Êx.40.35). A palavra hebraica “shekinah” vem dessa descrição bíblica, uma junção das palavras hebraicas “shakan” (permanecia) com “anan” (nuvem). Isto é, a glória de Deus não saía daquele lugar. Em Cristo, a plenitude da divindade reside para sempre. Por isso que foi profetizado que ele seria “Emanuel”. (Is.7.14). Quer dizer: Emanu (presente) El (Deus).

Por ser Cristo Deus e humano, ele contemplando a igreja, conhece todas as suas profundezas não apenas no saber, na onisciência, mas na “experiência”. Por ser humano também. Conhece nossas dificuldades e dores. E como Deus, conhece nossos erros e pecados.

3) Ele anda pela igreja trazendo juízo sobre seus erros, governando sobre ela soberanamente, tem os pastores em suas mãos e trás julgamento sobre a igreja. E com os seus líderes em suas mãos sua Palavra é proclamada ao mundo: 
“os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua força”. (v.15,16).

Os pés como refinado numa fornalha é uma clara comparação de juízo divino e detalhe: João o viu caminhando entre os candeeiros (as igrejas). O bronze polido era o material utilizado no altar do holocausto. Onde a ira de Deus era manifestada sobre os sacrifícios do Antigo Testamento. A voz de muitas águas ocorre quando fortes ondas batem nas encostas das rochas. Causando um som tremendo. Cristo julga os maus exemplos e erros das igrejas. Ele não está conivente com pecados e heresias das igrejas de forma alguma! As “estrelas”, que são os “anjos” (cf. v.20) das igrejas, provavelmente, ao contexto dos capítulos 2 e 3, são os pastores. De onde a sai da boca de Cristo “uma afiada espada de dois gumes”, isto é, a Palavra de Deus, conforme cita em Hebreus (4.12).

4) Ele morreu pelos nossos pecados e tem o poder sobre a morte e sobre o inferno. Quem se entregou para ele não precisa temer:
“Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno”. (v.17,18).

Era muito comum na manifestação da glória de Deus as pessoas serem fulminadas, consumidas ou morrerem. Temos muitos exemplos bíblicos sobre isso. Mas, com o advento da cruz de Cristo, toda a condenação foi removida sobre aquele que crê; se arrepende dos pecados e se rende a Deus. Está escrito: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. (Rm.8.1). Também: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” (Gl.3.13a). Por isso, Cristo usa a expressão “Não temas” e “estive morto, mas eis que estou vivo” fazendo uma clara alusão ao que foi escrito por Paulo: “o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação”. (Rm.4.25). Na expressão “tenho as chaves da morte e do inferno (hades)” revela o controle total de Cristo sobre o juízo eterno das pessoas. Por isso ele disse: “edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. (Mt.16.18b). Daí a grande importância de ser da igreja. Pertencer a igreja de Cristo. Pois quem estiver foram dela não há escapatória. Sobre isso João escreveu: “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas. Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira”. (Ap.22.14,15). João fala no contexto da Jerusalém celestial. Que a morada final da igreja de Cristo e figura de noiva de Cristo. Sua igreja.