Muito se ouse pregações em textos bíblicos que a gente percebe possuir certa fonte transbordante de lições para as nossas vidas. Todavia, passagens bíblicas que possuem genealogia, contagem do povo, medida de santuário, etc., não nos arriscamos tanto a buscar alguma leitura assim que Deus nos fale ao coração.
Venho aqui topar esse desafio, e provar com isso, que a Bíblia é que diz de si mesma: A Palavra de Deus. Que ela não apenas contém, mas é possível sim ouvir Deus falar em todas as páginas da Bíblia.
Olhando para a genealogia de Jesus Cristo exposta por Mateus, encontramos realmente lições importantes para nossas vidas. Você quer ver? Nessa passagem vemos que Deus planeja e trabalha para que seus planos se cumpram. Também vemos aqui que Deus não se preocupou de divinizar descendência de Cristo para ele ser quem foi. Pelo contrário, sua genealogia foi formada por gente, pessoas pecadoras, falhas, imperfeitas, também por pessoas de fé e que buscavam a Deus. E ainda, vemos que Deus trabalha mesmo no silêncio. Vejamos:
1) Deus faz planos e trabalha para que seus planos se cumpram.
Olhando para o texto lido, encontramos Deus agindo por toda a genealogia de Cristo. E que todos esses nomes citados aqui não foram envolvidos na história de genealogia de Cristo por acaso. Sabemos que a profecia feita ainda no Éden foi, antes de Adão e Eva serem expulsos do Paraíso, bem enfática em um descendente da humanidade que daria correção ao mal proposto por Satanás e aceito pelo casal (cf. Gn.3.15). Depois disso, vemos esse plano divino ser executado pela narrativa bíblica nas páginas do Velho Testamento. Primeiro Deus fala com Noé, faz uma varrida na expansão do mal e da violência sobre a Terra. E começa o plano a partir da descendência dos filhos de Noé (cf. Gn.7.13). Por meio de Sem chegamos a Abraão, pessoa citada na genealogia de Cristo. E por essa pessoa ele vai revelando o seu plano (cf. Gn.12.1-3). Depois revela mais a Davi, donde estabelece a promessa de que sua dinastia não teria fim (cf. 1Cr.17.7-14). E quando Deus chega a Maria, mulher de José, citado na genealogia de Jesus, diz para ela tudo que havia revelado a Abraão e Davi, lhe anunciado que ficaria grávida de maneira sobrenatural de um menino cujo nome seria Jesus (cf. Lc.1.30-35).
O que aprendemos aqui? Que temos que não só planejar, mas trabalhar para que esses planos se realizem. Aprendemos que Deus não fez a humanidade não foi para viver uma desgraça, de rios de lágrimas e sofrimentos. Ele sabia que criar seres com livre arbítrio, com escolha para amá-lo de verdade, custaria sacrifício, custaria à possibilidade de haver um mundo cheio de ódio, sofrimento e dor. O livre arbítrio tinha um preço (cf. Is.1.1-4). E Deus decidiu pagar esse preço. E planejou o Salvador antes da fundação do mundo (cf. Ap.13.8; Ef.1.4; Hb.9.26). Aprendemos que Deus chama pessoas para fazer parte de seus planos, que desafia pessoas a sonharem seus sonhos, a não só sonharem seus planos pessoais, mas os de Deus.
2) Deus não se preocupou em divinizar a descendência de Cristo.
Sempre foi assim desde o primeiro versículo da Bíblia, Deus não tem preocupação com nada. Ele não se preocupou em provar que ele existe. O mesmo se deu com relação ao Cristo, o seu filho. Vemos na genealogia de Jesus que há pessoas imperfeitas, falhas, pecadoras. Enquanto que nós ficamos tentando ser tratados como pessoas melhores ou maiores, Deus coloca seu filho em seus planos numa genealogia de gente pecadora. Olhe para Raabe, ela foi uma prostituta que acolheu os espias israelitas que estavam em Jericó antes da destruição (cf. Js.6.17). Olhe para Rute, mulher moabita, não era hebreia, era descendente de Moabe, neto de Ló (sobrinho de Abraão) nascido de incesto com sua filha (Gn.19.30-38). O que dizer de Salomão? Introduziu o culto a outros deuses no regime da monarquia de Israel. Deixou-se levar o coração pelas muitas mulheres e dividiu sua adoração entre Yahveh e outros deuses (1Rs.11.4). Olhe para Acaz? Ele queimava incenso a outros deuses e sacrificou seus filhos no fogo em culto a outros deuses (2Cr.28.3) o mesmo fez Manassés. Embora Josafá, Uzias, Ezequias, Josias terem feito diferença nos seus reinos, também tiveram suas falhas, e não puderem impedir o pecado entre seus descendentes. Joás foi uma vergonha para o sumo sacerdote Joiada. Foi só o sacerdote morrer para ele virar as costas para o que lhe foi ensinado desde a infância. Menino que foi criado dentro do templo de Yahveh.
Temos que aprender que somos pecadores, embora devamos que lutar contra o pecado. Temos que aprender que somos falhos, embora tenhamos que lutar pela perfeição. Se não soubermos viver nesse equilíbrio migraremos a nossa fé para extremos opostos e para sonhos impossíveis de serem realizados. Pelo menos aqui na Terra não. Não tem como “baixar a guarda” para o pecado um minuto se quer. Não tem como blindarmos a nossa vida da falibilidade, da errância. Temos que aprender a levar a vida cristã aqui nessa Terra. Crentes que se enrolam com esses extremos estão perdidos no labirinto da presunção. Somente a Palavra de Deus lida desprovida de “achismos” poderá nos tirar desse labirinto.
3) Mesmo no silêncio, Deus trabalha.
Olhemos para a genealogia de Jesus pela última vez. Todas as pessoas citadas ali têm uma narrativa bíblica sobre elas, que faz com que elas existam historicamente. Entretanto, depois do cativeiro babilônico, depois do fim do império da Pérsia (último império coadjuvante na narrativa bíblica), mergulhamos no silêncio das Escrituras e chegamos a nomes citados na genealogia que fazem parte da descendência mais próxima de José, pai terreno de Jesus. Pessoas que não sabemos sobre suas histórias. Porém Deus prosseguiu em seus planos, construindo e concluindo a genealogia até Jesus. Sem falar que a sua Mãe Maria não é mencionada (temos aqui outro silêncio). Embora haja uma chance de que a genealogia de Jesus apresentada por Lucas (3.23-38) seria de Maria.
O que temos de aprender é que não importa se seu nome está numa lista de papel, Deus tem você em seus planos. Não importa quantos títulos venhamos a ter nessa Terra. Sermos conhecidos pelos homens e não por Deus. Há muitos anônimos que deram suas vidas pelo Evangelho. Mas o galardão deles está guardado nos céus. Se você é daquelas pessoas que andam em busca de reconhecimento, desista de ser cristão. Pois somente o nome de Jesus é que tem que brilhar. E quando alguns brilham aqui na Terra é porque Cristo quis assim, não porque foram prediletos dele. Jesus ama todos os seus discípulos!
Também aprendemos que, embora não vejamos sinais ou evidências de que Deus está agindo, isso não quer dizer que ele parou de trabalhar. Talvez tenha sido essa a lição que Deus quis passar para Elias lá na caverna quando ele passou na sua frente um forte vento, um terremoto, um fogo e depois disso tudo, veio uma voz tranquila e suave (1Rs.19.11,12).