Texto inicial: At.17.28
Quando nos propomos ser uma igreja cristã, uma comunidade de convertidos, temos que entender sua base. Qual é a base de uma igreja cristã? Se essa questão for respondida dentro do contexto bíblico, seremos de fato uma igreja cristã. Do contrário, pra quê criar mais uma religião? Apenas para atender ao indiscutível instinto religioso do homem? Isso hoje em dia a psicologia da auto-ajuda já se propõe a assumir essa vaga.
O texto inicial nos ajuda a responder essa questão: Qual é a base de uma igreja cristã? Todavia, antes de entrarmos no mérito da questão, vamos começar pelo que não deve ser a base de uma igreja cristã? Olhando para o que tem muito assediado as igrejas evangélicas hoje, podemos trazer uma resposta evidente e obviamente não condizente com o ensino cristão. São eles:
a) O fundamento filosófico. O apóstolo Paulo já havia dito: “Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias...”. (Cl.2.8). Quando estudados a filosofia da religião, descobrimos que o ateísmo negando a existência de Deus, mas reconhecendo que o ser humano é instintivamente religioso, busca dar uma resposta para explicar esse instinto humano descartando a existência do divino. Onde a partir daqui, o filósofo se obriga a afastar-se do objeto de análise para poder explicá-lo de forma racional e lógica. Nessa proposta, podemos perceber de cara que não é fundamental e consequentemente nem sadio tal fundamento para uma igreja cristã. Pois, a fé cristão fica apenas como objeto de análise e nunca como um experiência provada e comprovada. E isso não é ser cristão. Jesus foi muito enfático: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba”. (Jo.7.37). Como posso ser cristão sem experiência? Como posso afirmar ser um seguidor de Jesus sem um encontro pessoal, íntimo com ele? Infelizmente, muitas igrejas, nos púlpitos e nas cadeiras estão cheias de filósofos. Ficam mais de observar/assistir o culto do que realizá-lo. Essa proposta filosófica não serve de base para uma igreja cristã.
b) O fundamento psicológico. O mesmo Paulo também nos deixa implicitamente uma preciosa recomendação: “pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas”. (2Co.10.4). Paulo se preocupa em dizer aos cristãos em Corinto que as armas que ele usou para combater as fortalezas fechadas para a pregação do evangelho, a corações resistentes, não foram carnais. Isso quer dizer que, não temos como fundamento para conquista e sustentação de cristãos numa igreja cristã subsídios carnais, um exemplo atual disso é a psicologia cristã. Esse fundamento também não serve de base para uma igreja cristã. Pois a base não deve ser carnal, isto é, não deve proceder do estudo comportamental do ser humano. A Palavra de Deus já ocupa esse papel de discernir o comportamento humano (ver Hb.4.12). E que é o pior, tratando-se da psicologia da religião, tal posição não se preocupa em determinar se é certo ou errado o comportamento religioso A,B ou C. Mas, apenas em analisar. Isso cria um certo sentimento de relativismo da verdade e também um sentimento ecumênico. Enquanto que Cristo foi muito decisivo: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. (Jo.14.6). Uma igreja cristã não sobrevive espiritualmente disso. Pois o mundo tem propostas semelhantes. Cujo o foco é o antropocentrismo.
c) O fundamento empresarial. Aqui também, Paulo responde de novo em suas palavras. Creio que a repetência paulina na negação desses fundamentos aqui citados deve ao fato dele ser o grande implantador de igrejas e ao mesmo tempo grande teólogo. Gozando de vasta experiência para descartar esses fundamentos. Assim, escrevendo a Timóteo ele fala de: “disputas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade é fonte de lucro”. (1Tm.6.5). O grande lema empresarial é o quê? Lucro! O acúmulo patrimonial, os grandes empreendimentos. Esse contexto empresarial não passa nem de perto do contexto cristão. O mesmo texto de Paulo a Timóteo nos ensina a vivermos em “contentamento” (idem v.8). E o mais direto e que despacha por completo esse fundamento ele diz: “Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição”. (idem v.9). A grande mensagem de Cristo aos que se propõem ser seus seguidores qual é? Mt.4.9 ou 16.24? Tem muitos pseudo-cristãos que pensam ser Mt.4.9 palavras de Jesus, quando de fato quem prometeu isso foi o Diabo! Portanto, embora a igreja quanto organização ou comunidade organizada se pareça com uma empresa a sua ideologia e sua cosmovisão não são empresarial. A base não é ser ou ter uma igreja rica.
A igreja cristã deve se basear em quê então?
Primeiramente, uma igreja que se propõe ser cristã a sua base deve ser Deus e Cristo. Sua vida, mensagem e obra. No nosso texto inicial lemos: “porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos ...”. Essa frase é de um comprometimento sem igual. Dispensa qualquer resumo teológico, a frase já é um resumo de uma grande dissertação da teologia. (Veja que Paulo diz isso discursando em Atenas – Grécia. Berço da filosofia). Onde Paulo complementa nos dizendo aos cristãos gregos: “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”. (1Co.3.11). Uma igreja cristã deve viver Deus, se movimentar em Deus e existir com Deus. Tendo Cristo como a base de sua mensagem, vivência e obra. A maior revelação de Deus (Cl.1.13-20).
Em seguida, uma igreja que se propõe ser cristã a sua base deve ser consequentemente a revelação e a experiência (Jo.1.1,14). Não podemos viver de observação de comportamentos como faz a psicologia e nem muito menos de reflexão como faz a filosofia. (A igreja não vive de achismos do comportamento e pensamento humano). Revelação e experiência ti trás para dentro e faz vivenciar. Ao invés de meramente ficar observando. Uma vez que Deus não se analisa, se sente, e toda a sua existência está em sua revelação. Pois, se ele não decide se revelar, jamais o conheceríamos. Essa junção de revelação e experiência é muito bem retratada pelo apóstolo João (1Jo.1.1-4). E o ser humano só quem conhece perfeitamente é Deus e sua palavra (Jr.17.9; resposta: Sl.139.1 e Hb.4.12).
Em último, uma igreja que se propõe ser cristã a sua base deve ser a comunhão. O mesmo apóstolo João vai nos dizer: “mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado”. (1Jo.1.7). Ele começa com uma partícula grega de condicionalidade que traduzimos por “se”. Isto quer dizer que, segundo João, uma pessoa que verdadeiramente se converteu há um cuidado de manter a comunhão com pessoas que também provaram da mesma experiência. E nessa caminhada de companheirismo e fé comum, Jesus vai santificando sua igreja. Com Paulo fecho aqui minha mensagem: “para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”. (Ef.5.27).