sexta-feira, 2 de março de 2018

O DEUS DA PALAVRA


Por muito tempo o povo de Israel ficou e ainda é conhecido como o povo do Deus da Palavra. Essa expressão quer dizer que o Deus de Israel fala, se comunica. Veja que na Tanach, a Bíblia hebraica ou, que nós conhecemos como Antigo Testamento, Moisés narra a criação e sua experiência com esse Deus escrevendo “disse Deus”. Ela ocorre 18 vezes na Torah (que chamamos de pentateuco). Confira: Gn.1.3,6,26,29; 3.3; 4.10; 6.13; 8.15; 9.12,17; 30.20,23; 35.1; 41.51,52; Êx.3.14,15; Nm.22.12. 

Por todo o Antigo Testamento encontramos a expressão “Assim diz o SENHOR” ou “Assim diz Yahveh”. Ela ocorre 405 vezes. Ela começa a partir da revelação de Deus a Moisés. Cuja primeira vez diz: “Dirás a Faraó: Assim diz o SENHOR: Israel é meu filho, meu primogênito.” (Êxodo 4:22 ARA). E a última diz: “Assim diz o SENHOR, meu Deus: Apascenta as ovelhas destinadas para a matança.” (Zacarias 11:4 ARA).

Esse Deus tornou-se conhecido primeiramente pelo patriarca Abraão, mas o Abraão não escreveu nada, então foi Moisés quem dar a conhecer tudo o que sabemos sobre Deus no Antigo Testamento. Todavia, esse conhecimento do Deus da Palavra torna-se mais pleno quando Jesus vem ao mundo. O Apóstolo João, quando fala dessa plenitude do Deus da Palavra, e da revelação do seu ser, ele escreve:


“No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ela estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram […] Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade”. (João 1.1-5,14 NVI).

Observe que João associa Jesus a Palavra, isto é, O Deus da Palavra tornou-se plenamente conhecido como JESUS. Ele foi, é e sempre será o Verbo de Deus. É Deus em ação, criando (Gn.1.3), se revelando (Jo.10.30) e salvando (1Jo.1.1-2). Quando Filipe pede-lhe: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta” (Jo.14.8 ARA). Jesus lhe responde: “Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?”. (idem v.9). Jesus não está dizendo aqui que ele é o Pai, pois o contexto não aprova isso (cf. 14.6,16). Ele está dizendo que é a Palavra. O verbo divino. Jesus é a imagem de Deus (cf. Cl.1.15), ele é Deus em carne:

“Não há dúvida de que é grande o mistério da piedade: Deus foi manifestado em corpo, justificado no Espírito, visto pelos anjos, pregado entre as nações, crido no mundo, recebido na glória”. (1Tm.3.16 NVI).

COMO TER UM RELACIONAMENTO COM O DEUS DA PALAVRA?

O Deus da Palavra estava invisível ao seu povo. Apenas o ouviam, e presenciavam grandes sinais e maravilhas. Assim, as orações eram ao Deus invisível. Contrapondo os deuses ao redor do povo de Israel e da Igreja (ver Êx.33.20, Dt.4.12-19; Sl.115.2-11; At.17.29; 1Tm.1.17).

Quando veio Jesus, Deus veio a ser visto, não em sua forma, mas na figura humana (Fp.2.7). Como disse João (Jo.1.14,18). Entretanto, ao voltar para o Pai, embora os seus primeiros discípulos continuaram tendo visões dele, toda o nosso contato com Deus, permanece como está – por meio da oração (Mt.6.9-13). Agindo como verdadeiros adoradores, que adoram em espírito (de maneira espiritual e não material) e em verdade (legitimando essa adoração). Conforme disse Jesus a mulher samaritana (cf. Jo.4.24). Onde disse também que o Pai procura pessoas assim: “porque são estes que o Pai procura para seus adoradores”. (idem v.23 ARA).

No meu livro A Fé da Igreja Gileade, eu escrevo: “Deus é uma pessoa. Nós somos pessoas. E importa que o adoremos plenamente como pessoas. E ele nos ama plenamente do jeito quem ele é: uma pessoa. A recíproca nossa deve ser verdadeira: amemos a ele plenamente do jeito quem somos: pessoas. Adoremos devidamente!”. (P.110,111). Fomos feitos a imagem e semelhança de Deus, ele pensa, sente, raciocina e decidi. Portanto, podemos e devemos nos relacionarmos com Deus com todo o nosso ser (ver Sl.103.1). No mesmo livro eu escrevo: “A IGREJA GILEADE acredita que o Deus que servimos é uma pessoa, e por isso, nosso culto a ele não pode se restringir a emoção (é natural nos emocionar), nem extremar-se ao emocionalismo, nem ser um esvaziamento da mente, do intelecto. Mas inclui cultuá-lo com a mente, com o entendimento, com palavras e canções que expressem exaustivamente a glória de Deus, com poesia, sabedoria, lógica, conhecimento. Com letras de cifras de canções que tenham conteúdo, riqueza bíblica, da Palavra de Deus. Entendemos que toda nossa adoração parte do princípio de quem Deus é”. (idem, P.110). Leiamos: Rm.11.33-34 e 12.1.

Para respondermos finalmente a pergunta desse tópico temos que concluir que somos pessoas e que Deus é uma pessoa. Assim, nosso relacionamento com ele deve ser parecido como o que temos com outras pessoas. A diferença é que o Deus da Palavra transcende a nossa compreensão, as nossas limitações, as nossas perspectivas. E o relacionamento, por enquanto, continua sendo com o invisível. Uma área desse relacionamento em que precisamos ser mais bem-aventurados do que Tomé. Quando nosso Senhor Jesus confrontou Tomé: “E logo disse a Tomé: Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente. Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” (João 20:27-29 ARA).

Num mundo materialista, cético, onde a laicidade tem se expandido e ao mesmo tempo com o ressurgimento do politeísmo e panteísmo crescente, crer e se relacionar com o único Deus invisível e pessoal é bem difícil. Todavia, pra isso Ele nos deu a fé (ver Hb.1.1,6; Ef.2.8,9; Rm.5.1,2). Fé nas suas duas promessas imutáveis: a benção de Abraão e o sacerdócio de Jesus, se torna como “âncora da alma, segura e firme” (ver Hb.6.13-20).